O Overlei

O Overlei é um não-coletivo: uma plataforma para troca de idéias e desenvolvimento individual de processos artísticos. Ilustração, foto, grafite, texto, design, instalação e pintura: cabe tudo no barco e todo tipo de expressão é bem vinda!

20090913

Last Night We Fought God

Fala galera,

Para o meu primeiro post aqui no Overlei estava preparando uma ilustra, mas acabou ficando em cima da hora e não ia dar tempo de deixar ela bacana.

Decidi então compartilhar um trampo que fiz já há um tempo, enquanto estava lendo "Humano, demasiado humano", de Nietzsche, mais precisamente o capítulo em que ele discorre sobre a vida religiosa.

Em paralelo, acabei me lembrando de uma poesia de Augusto dos Anjos, chamada "Psicologia de um Vencido". Augusto dos Anjos é sempre uma pedida um pouco depressiva, mas sempre achei interessante o jeito derrotado e hipocondríaco com que ele encara a vida e a sua própria fé religiosa.

Acabei pirando nas idéias dos dois e me inspirando numa arte bem livre,












Segue abaixo um trecho de um aforismo de Nietzsche sobre religião:

"119. Destino do cristianismo, - O cristianismo nasceu para aliviar o coração; mas agora deve primeiro oprimi-lo, para mais adiante poder aliviá-lo. Em conseqüência, perecerá."

"109. Sofrimento é conhecimento. - Como gostaríamos de trocar essas falsas afirmações dos sacerdotes, segundo as quais existe um deus que de nós exige o bem, que é guardião e testemunha de toda ação, todo momento, todo pensamento, que nos ama, que em toda desgraça deseja o melhor para nós - como gostaríamos de trocá-las por verdades que fossem tão salutares, calmantes e benfazejas como esses erros!... ...graças à evolução da humanidade, tornamo-nos tão delicados, suscetíveis e sofredores a ponto de precisar de meios de cura e de consolo da mais alta espécie; daí surge o perigo de o homem se esvair em sangue ao conhecer a verdade."

E aqui o soneto de Augusto dos Anjos, a pedido do Victão:

Psicologia de um Vencido

"Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.

Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância…
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.

Já o verme – este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,

Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!"



Valeu pessoal, e até o próximo dia 13

2 comentários:

  1. Que pira, brou. Confesso que quando vi essa peça pela primeira vez no seu portifa, pensei "cacete, que cliente chapado", hahahaha. Agora as coisas ficam mais claras. Fiquei com vontade de ver a referência poética também. Mas tá tudo certo.

    Quanto à peça, curto o tratamento, o sol nascente, a textura de papel e tal. A única coisa que eu acho bem ousada é o título. Me dá uma impressão de que destoa um pouquinho.

    Enfim, mano. Legal pacas!
    Abrazzi!

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  2. Pois é...realmente, durante toda a história da humanidade a religião serviu-nos de grande consolo. Era a ciência da época. Hoje a religião ficou demodê, especialmente entre os mais esclarecidos.
    Deus morreu, mas de boa, a ciência nasceu e, esta sim, vai de vento em popa. Engraçado que esta última veio explicar por A + B exatamente aquilo que a outra, há muito, contou em forma de metáforas.

    Eu gostei do título, mesmo ousado, como disse o Victão. Parece que sempre precisamos lutar contra o deus, por nós criado como nosso criador (faz sentido isso?).

    Além do mais, um artista precisa dar vazão à seus pensamentos e ao que sente, sendo controverso ou o que for.

    Sei lá...acho que vou calar a boca...mas é que quando o papo é deus e religiosidade eu me impolgo, é um assunto muito importante pra mim.

    Adorei seu trabalho, o tratamento da imagem e talz, e também a discussão que trouxeste a tona. É legal poder ler os textos que serviram de inspiração, é uma oportunidade rara, normalmente vemos só a obra pronta... enfim! arrasou!

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