O Overlei

O Overlei é um não-coletivo: uma plataforma para troca de idéias e desenvolvimento individual de processos artísticos. Ilustração, foto, grafite, texto, design, instalação e pintura: cabe tudo no barco e todo tipo de expressão é bem vinda!

20110819

Indicação de leitura: Desconstruir Duchamp

Esse é um post que sai pela tangente aqui do blog - uma indicação de leitura. O livro que eu apresento é o Desconstruir Duchamp, que acumula diversos ensaios do poeta e crítico Affonso Romano de Sant'anna. O livro combate ingenuidades muito comuns da nossa geração de artistas - idéias velhas sobre "arte contemporânea" e práticas emboloradas que precisam ser revisadas com urgência. Acho que os textos da orelha e da introdução dispensam mais comentários meus.



Orelha:

A melhor homenagem que podemos fazer aos mestres contestadores de ontem, é contestá-los hoje. Não para que a arte volte ao passado, mas para que ela se possibilite no futuro. (...) E para isso, repito, é necessário uma leitura multidisciplinar daquilo que não sendo arte tem sido apresentado como arte.

Introdução:

Joguei o urinol na cara deles como um desafio e agora eles o admiram como um objeto de arte por sua beleza. (Marcel Duchamp)

Desde o instante em que a arte deixa de ser o alimento para as melhores mentes, o artista pode usar todos os truques do charlatão intelectual. Hoje em dia, a maioria das pessoas não espera mais receber consolo ou exaltação da arte.    

Os "refinados", os ricos, os ociosos profissionais, os destiladores de quintessências buscam o que é novo, estranho, extravagante, escandaloso na arte. Eu mesmo, desde o cubismo e além dele, contentei esses mestres e esses críticos com todas as bizarrices mutáveis que me passaram pela cabeça.    

E quanto menos eles me compreendiam, mais eles me admiravam. À força de me divertir com todas essas brincadeiras, com todos esses quebra-cabeças, enigmas, arabescos, eu fiquei célebre, e muito rapidamente. E a celebridade para um pintor significa vendas, lucros , fortuna, riqueza. E hoje, como o senhor sabe, eu sou famoso, eu sou rico.    

Mas, quando estou sozinho comigo mesmo, não tenho a coragem de me considerar um artista no sentido antigo e grande da palavra. Giotto, Tiziano, Rembrandt e Goya foram grandes pintores: eu sou apenas um divertidor do público - um charlatão.    

Compreendi o tempo em que vivi e explorei a imbecilidade, a vaidade, a avidez de meus contemporâneos. É uma amarga confissão a minha, na verdade mais dolorosa do que parece. Mas ela tem o mérito de ser sincera.                                                            

Giovanni Papini

3 comentários:

  1. wow, tem pano pra manga isso aí, hein?
    quero ler quando conseguir.

    Boa, Vito!!

    beijo!

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  2. Isso me fez lembrar de uma vanguarda artística que participava na época do colegial... O Urinismo.

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  3. Hahahaha, issaê, Du.

    Leitura legal, mano, pra a gnt parar de olhar pra arte que nem virgem.

    Beijo!

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