Esse é um post que sai pela tangente aqui do blog - uma indicação de leitura. O livro que eu apresento é o Desconstruir Duchamp, que acumula diversos ensaios do poeta e crítico Affonso Romano de Sant'anna. O livro combate ingenuidades muito comuns da nossa geração de artistas - idéias velhas sobre "arte contemporânea" e práticas emboloradas que precisam ser revisadas com urgência. Acho que os textos da orelha e da introdução dispensam mais comentários meus.
Orelha:
A melhor homenagem que podemos fazer aos mestres contestadores de ontem, é contestá-los hoje. Não para que a arte volte ao passado, mas para que ela se possibilite no futuro. (...) E para isso, repito, é necessário uma leitura multidisciplinar daquilo que não sendo arte tem sido apresentado como arte.
Introdução:
Joguei o urinol na cara deles como um desafio e agora eles o admiram como um objeto de arte por sua beleza. (Marcel Duchamp)
Desde o instante em que a arte deixa de ser o alimento para as melhores mentes, o artista pode usar todos os truques do charlatão intelectual. Hoje em dia, a maioria das pessoas não espera mais receber consolo ou exaltação da arte.
Os "refinados", os ricos, os ociosos profissionais, os destiladores de quintessências buscam o que é novo, estranho, extravagante, escandaloso na arte. Eu mesmo, desde o cubismo e além dele, contentei esses mestres e esses críticos com todas as bizarrices mutáveis que me passaram pela cabeça.
E quanto menos eles me compreendiam, mais eles me admiravam. À força de me divertir com todas essas brincadeiras, com todos esses quebra-cabeças, enigmas, arabescos, eu fiquei célebre, e muito rapidamente. E a celebridade para um pintor significa vendas, lucros , fortuna, riqueza. E hoje, como o senhor sabe, eu sou famoso, eu sou rico.
Mas, quando estou sozinho comigo mesmo, não tenho a coragem de me considerar um artista no sentido antigo e grande da palavra. Giotto, Tiziano, Rembrandt e Goya foram grandes pintores: eu sou apenas um divertidor do público - um charlatão.
Compreendi o tempo em que vivi e explorei a imbecilidade, a vaidade, a avidez de meus contemporâneos. É uma amarga confissão a minha, na verdade mais dolorosa do que parece. Mas ela tem o mérito de ser sincera.
Giovanni Papini
wow, tem pano pra manga isso aí, hein?
ResponderExcluirquero ler quando conseguir.
Boa, Vito!!
beijo!
Isso me fez lembrar de uma vanguarda artística que participava na época do colegial... O Urinismo.
ResponderExcluirHahahaha, issaê, Du.
ResponderExcluirLeitura legal, mano, pra a gnt parar de olhar pra arte que nem virgem.
Beijo!